A crítica dá cabo de si?

Para tudo considero a importância da crítica, e, sinceramente, as críticas construtivas serão das melhores a receber. As destrutivas, mordazes e invejosas são sempre muito difíceis de aceitar e conseguem muitas vezes arruinar o nosso dia.

Mas já reparou que só a palavra crítica é suficiente para pôr os cabelos em pé?

No universo das empresas essa palavra assume muitas vezes dimensões quase estratosféricas, sendo algo muito pouco bem-vindo, temido e encarado de forma muito negativa.

Mas sabemos todos e conseguimos reconhecer que é quando nos apontam as críticas que crescemos, que somos invariavelmente forçados a olhar para dentro e a ver de forma menos apaixonada se estarão certos ou não. Para nas empresas existir esta capacidade de criticar, tem também de existir algo muito mais importante que é a Confiança entre as pessoas.

Já uma vez falámos dos maiores desafios que uma equipa, ou empresa, costumam atravessar e o primeiro de todos é a confiança, ou a falta dela.

Existe confiança na sua empresa?

As pessoas respondem-nos sempre que sim, que, no fundo, confiam nos funcionários que têm e na sua entrega, nas suas capacidades, etc. Confundem confiança com camaradagem e espírito de equipa. Não é bem o mesmo.

A confiança pressupõe que abertamente e sem medos confiamos nos outros para nos auxiliarem nas nossas falhas, não temos medo da crítica e conversamos com mais razão do que emoção acerca dos problemas e falhas que temos.

Quando existe confiança verdadeira nas equipas, não há medo de exposição aos outros. E por parte de quem critica há ainda uma abordagem apenas às ideias e ações e não à pessoa que errou.

Em Portugal pensamos e agimos muito com o coração, e por tê-lo ao pé da boca, as coisas muitas vezes precipitam-se. Temos ainda a convicção de que se não gostam das nossas ideias é porque não gostam de nós como pessoas. Outra tremenda asneira!

Temos de construir com as nossas equipas plataformas de entendimento, em que as críticas boas e más são abordadas, sem medos de represálias, de invejas ou de outras consequências. Muitas vezes agimos como intermediários e catalisadores para que este ambiente surja nas equipas de forma gradual e optamos por várias ações:

• Jogos de equipas onde todos participem põem em evidência o comportamento das pessoas num ambiente de competição, o que se traduz depois em comportamentos semelhantes num ambiente empresa. Estes jogos devem envolver todos os colaboradores e posteriormente os debriefings devem evidenciar os comportamentos positivos e negativos sem indicar quem os tomou;
• Reuniões de brainstorming com regras próprias, como nada ser impossível ou censurado e onde todos podem falar abertamente. Tipicamente há receios das consequências deste tipo de reunião, mas que tal quando fizer a sua próxima reunião de equipa sugerir que o que acontecer na sala FICA na sala?

As críticas negativas custam muito, mas passado o choque inicial, é altura de dar início a uma introspeção. O que poderíamos ter feito melhor? O que dissemos e não devia ter sido dito? Onde não nos preparámos e falhámos em termos de comunicação? Se a mensagem não passa é o comunicador que não se exprimiu da melhor maneira, por isso devemos estar preparados para refletir e alinhar.

Por vezes em equipas onde a comunicação é mais complicada, utilizam-se outras técnicas, tais como a caixa de ideias/sugestões/criticas anónimas, ou um placard de post-its onde colocar sugestões. Mais uma vez convém estabelecer-se regras, como ser importante criticar a ação e não a pessoa que a fez.
Já pensou porque fazemos o que fazemos no contexto em que estamos? Há equipas onde a crítica foi de tal forma “abafada” que não se avança, não se cresce e as novas pessoas ficam rapidamente desanimadas, desistindo muitas vezes nos primeiros meses. Noutras empresas, a crítica é algo vital e aproveitado ao máximo e esquecem-se de falar aos novos colaboradores sobre as regras que existem. Estes sentem-se observados, criticados, não têm poder de encaixe e mais uma vez… fogem.

Nunca subestime o poder de uma BOA crítica para o momento de aprendizagem.
Inspire os membros da sua equipa a fazerem o mesmo!